E aí, corredor?!
A Maratona Internacional Caixa da Cidade do Rio de Janeiro realmente foi um marco para mim como corredor. Nada será como antes depois de vencer os mais de 42km da prova e depois de ficar mais de 4h correndo pela linda paisagem carioca.
Aí hoje, ao comentar com uma amiga, carioca e moradora do Rio - Mônica - sobre a corrida, a qual intitulei como uma epopéia, percebi que este depoimento de hoje ficou mais emocionante. E por isso, resolvi postar aqui no E AÍ CORREDOR este depoimento.
Maratona Internacional do Rio de Janeiro 2010 - Eu Venci ! Versão 2.
Cheguei sexta à noite, com aquela chuvinha chata (garoa paulista no Rio, ô meu!) e no dia seguinte peguei o metrô pra pegar o kit junto com Jane e Ranieri, amigos inseparáveis no Rio. Saímos da Arco Verde para a Estácio. Lá, tudo lotado. Todos os participantes parecem que chegaram sexta à noite e foram pegar o kit naquele dia. Mas a distribuição estava rápida e o espaço cheio de atrações. Ficou legal. Encontrei minhas amigas do marketing e as elogiei pela boa organização.
Bom, depois saí para almoçar com a turma. Pegamos o metrô e descemos na Siqueira Campos por que eu, acostumado a ir para o Rio mas sempre com Deborah, meu "GPS natural", não sabia exatamente onde ficavam os restaurantes maneiros por que sempre contei com ela para achá-los. Aí, sabia que em Copa tinham vários e resolvi descer com a galera na Siqueira e ir em direção à praia. Até por que a gente não queria ir pra muito longe pra não se cansar já que íamos correr a maratona ou a meia maratona pela primeira vez.
Almoçamos e voltamos ao hotel para um descanso. À noite, levei Jane e Ranieri para comer o famoso sanduíche de Pernil com queijo e abacaxi do Cervantes, já que o almoço tinha sido farto. E a chuva constante. A garoinha e o friozinho insistente.
Aí chegou o grande dia. Tínhamos que acordar às 4h30 da manhã para tomar o café do manhã e ir para a largada. Duas vans levaram-nos para a largada da meia na Barra, já perto da subida para o Elevado do Joá, que ia ser 7h da manhã e acabou acontecendo às 7h20 - por causa da Globo - e para a largada da Maratona, no Recreio, praça Tim Maia, Macumba, lá no comecinho da praia, com horário previsto para às 7h30 e que realmente aconteceu.
Clima: nublado, muito vento, mas não tava frio não. Tudo perfeito para cumprir os 42,195k da prova, pelo menos para nós amadores.
E lá fomos nós, às 7h30, rumo ao Aterro do Flamengo. Primeiro corremos 1,5k para dentro do Recreio e depois voltamos esta distância até o ponto de onde largamos e, aí sim, rumo ao Aterro. A ansiedade era enorme e a adrenalina estava à mil por que era a minha primeira maratona e eu não sabia o que ia acontecer e se iria conseguir cumprir o percurso.
Comigo estavam dois amigos da equipe, o professor Nirley e o Jailto, que vc conhece daquela época que vc esteve com a gente mas não sei se vc se lembra. E encontrei alguns outros malucos de Brasília, corredores, que estavam por lá também.
E então corremos - eu, Nirley e Jailto - juntos até o km 13, já na Reserva, quando os dois dispararam e eu resolvi me conter. Eles já haviam corrido grandes distâncias antes em outras provas e são os "top top" da equipe. Não podia acompanhá-los por que não conhecia este lance de correr mais do que 1h direto (participei de 3 meias maratonas e o maior tempo que fiquei correndo foi 1h57).
Aí, corri, pensando na vida, ouvindo o playlist do meu ipod e olhando para o mar e o caminho. É engraçado como a corrida me faz pensar, refletir sobre minha vida. Estava passando por um momento meio conturbado na minha vida, e todo o filme daquilo que passei estava sendo reprisado na minha cabeça, a cada passada. Depois de ficar olhando o mar, correr é a melhor psicologia para mim.
E passei a Reserva, cheguei na Barra, onde tínhamos meia pista. Lá, uma dificuldade: muita poças grandes de água por causa da chuva da manhã, o que nos fez correr na ciclovia para evitar molhar o tênis, pois isto poderia prejudicar nosso desenvolvimento na corrida. Isso, no final, acarretou no aumento da distância da prova para mim. Estava com meu relógio com GPS e a quilometragem final foi de 43,99 km (é mole!). Bem que vi, também, que tinha alguma coisa errada entre as distâncias aferidas de uma placa de sinalização para outra.
E sobre o Elevado. Uma visão incrível, mesmo com o tempo nublado: o mar e as praias da zona sul e toda a orla da região. Muito legal. Teve gente que parou de correr só pra tirar fotos. E no caminho, muita água e, em alguns pontos, música para animar a gente.
Na descida, já em São Conrado, já tinha gente desistindo. Nisso já passávamos dos 21k (meia maratona). E estávamos próximos do trecho de maior dificuldade, a subida de 3km da Niemayer. Aliás, tanto no Elevado como na Niemayer a pista inclinada para água escorrer mais fácil para os dutos que levam ela para o mar prejudicou muito as passadas e resultou em dores fortes na paturrilha que senti já em Ipanema.
Na Niemayer ultrapassei o chamado "muro dos 30", mito entre os maratonistas, que comprovei. Os relatos da galera que já enfrentou uma maratona sempre dizem que no km 30 é que muita gente quebra. E eu realmente vi muito corredor parar e ser socorrido. Passou dali, o final fica mais tranquilo. E eu passei, já sentindo as dores da panturrilha direita e com medo daquilo aumentar e eu quebrar.
No Leblon, depois de passar por muita gente andando, as dores ficaram quase insuportáveis e tive que reduzir o ritmo para não parar. Tomei o gel, isotônico, água e fui seguindo. Isso já eram mais de 3h de corrida. Quando estava já em Copa, no km 36, a perna direita travou e simplesmente não me obedecia mais. Pensei na cena daquela maratonista da Suíça, em uma olimpíada (não me recordo o nome dela agora). A perna parecia estar torta e não voltava para o lugar. E faltavam 6k. Ou seja, não ia parar mesmo e ia cumprir os 6k que faltavam nem que chegasse arrastado.
Me estiquei um pouco, andei rápido, conforme orientação do treinador ("- Nada de andar devagar. Tem que ser rápido, quase uma marcha atlética."). E deu certo. A dor passou um pouco e eu voltei a correr uns 2 minutos depois, mas reduzi ainda mais o ritmo e fazer 1km parecia uma eternidade.
Mas no final, 4h11 depois, cruzei a linha de chegada, emocionado, realizado. É uma conquista que transforma a gente mesmo. Uma superação e tanto. O corpo fica lá "gritando" pra gente: "- Para maluco! Olha o que vc tá fazendo comigo!" .
E a gente lá, insistindo. E quando chega, depois de todo o sacrifício, depois de ver tanta gente quebrar, quase chora. Acho que as lágrimas só não saíram por que a água do corpo foi deixada pra trás, na corrida (rsrsrsrs).
Foi demais. Tô ainda meio em extâse, sabe. Sacrifício mas maneiro. E consegui. O que foi demais. Estava preparado para até pegar um táxi no meio do caminho se fosse preciso, ou mesmo chegar com mais de 4h30, sei lá. E consegui vencer, correndo quase tudo, exceto pelo 2 minutos, cerca de 100 metros da "marcha atlética". E no final, olhei no relógio e vi que tinha corrido nada mais nada menos que 43,99 km. Acho que os motivos foram o percurso na ciclovia, na Barra, os zigue-zagues na pista para desviar dos atletas mais lentos. O fato é que o meu GPS aferiu esta marca, o que tornou a vitória ainda mais significativa. Muito doido ! ! !
E foi assim.
Boas passadas.